sexta-feira, 20 de abril de 2012


19/04/2012 - 12h29

Economizar combustível e poluir menos é uma encrenca de bom tamanho

Fernando Calmon
Colunista do UOL

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  • Exemplares do elétrico Nissan Leaf em evento para novos proprietários do modelo, no Japão
    Exemplares do elétrico Nissan Leaf em evento para novos proprietários do modelo, no Japão
Os governos dos Estados Unidos e da União Europeia apresentam diferentes estratégias para diminuir o consumo de combustíveis fósseis e, por consequência, a emissão deCO2. Esse é o principal gás do efeito estufa e seus possíveis efeitos sobre mudanças climáticas ainda se discutem em termos de prazos e abrangência.
Na Europa existem metas de emissões com cobrança de imposto sobre os carros que estiverem acima da média de 130 g/km de CO2 e bônus para os que se situarem abaixo. Nos EUA foi definida a obrigatoriedade de consumo médio de 23 km/l de gasolina, igualmente para a média dos automóveis de cada fabricante, até 2025. O governo americano deseja, ao mesmo tempo, reduzir sua dependência do petróleo e diminuir CO2emitido nos escapamentos. Sempre se deve reforçar: não existem filtros ou catalisadores para esse gás, mesmo porque é atóxico. Para controlá-lo, só com veículos mais econômicos.
Sem dúvida, melhorar em mais de 50% os padrões atuais de consumo dos carros vendidos nos EUA é algo bastante ambicioso. Tanto que o governo até admite reavaliar esse alvo em 2018. Os fabricantes nem puderam espernear. Veio a ordem: cumpra-se.
Onde entra o consumidor nessa história? Justamente isso ecoou durante a convenção anual da Nada (equivalente à brasileira Fenabrave), em fevereiro passado, em Las Vegas (EUA). O presidente da entidade, que reúne 18.000 concessionárias de automóveis e comerciais leves, William Underriner, foi incisivo: "Quase 80% dos nossos clientes pesquisados não estão dispostos a pagar mais por um veículo que gaste menos combustível."
Ele citou o estudo da própria EPA (sigla, em inglês, para Agência de Proteção Ambiental), que estimou em US$ 3.000 (R$ 5.500) o acréscimo provável no preço sugerido para os automóveis, em média. Na realidade, o acréscimo deve chegar a US$ 5.000 (R$ 9.000), porque as modificações não se restringirão apenas a motores e câmbios. Haverá necessidade de usar materiais leves e caros, além de redução das dimensões externas e internas dos veículos. Seria necessário quase uma revolução cultural para que os compradores abrissem mão do conforto e ainda tivessem de pagar mais.
No evento, Underriner ressaltou que, historicamente, as concessionárias sempre apoiaram a fabricação de veículos que consumissem menos combustível. "Agora, se a política do governo vai encolher nossa base de clientes, não devemos ficar preocupados? A Nada questiona porque não desejamos ter de volta os pontos de venda vazios. Quantas pessoas serão forçadas a comprar algo que não querem?"
TUDO VAI SUBIR
Embora essa reação pareça emocional, o risco existe. O pior dos cenários, levantado por Underriner, seria os clientes decidirem manter seus veículos atuais. "Se ocorrer, iria na contramão do objetivo de incrementar a economia de combustível", disse.
Mudar a mentalidade das pessoas pode ser tão difícil como os desafios técnicos à frente. Há muita pesquisa em desenvolvimento e, provavelmente, se poderia atender a meta exigida pelo governo. O problema é saber a que preço. Nos EUA, aumento de imposto, como ocorre na Europa, é palavrão. Alternativas, porém, escasseiam. Os combustíveis vão aumentar porque o preço do petróleo continuará a subir. E o dos carros, também. Dá para imaginar o tamanho da encrenca.
Os motoristas europeus estariam mais resignados porque lá o combustível é caríssimo devido aos impostos. Parte do acréscimo, na hora de preencher o cheque na loja, se compensaria ao diminuir o custo do quilômetro rodado.
No Brasil, estamos a meio caminho, em termos de combustíveis, em relação aos dois lados do Atlântico Norte. O governo, para tourear a inflação, congelou o preço da gasolina por cinco anos, a ponto de dar prejuízo à Petrobras no momento em que precisa de muito dinheiro para investir, e inviabilizou o etanol. Certamente, alguma confusão surgirá à frente.

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